25 de Maio: A África que Resiste no Rio e no Brasil

No Dia da África, o Rio de Janeiro lembra suas raízes africanas e reafirma a luta contra o racismo, celebrando a resistência que moldou a cidade e o país.


Enquanto o 13 de maio simboliza uma abolição inconclusa, o 25 de maio emerge como data de afirmação da ancestralidade africana e da resistência negra. No Rio de Janeiro, essa história se entrelaça com lutas locais que ecoaram nacionalmente, da Pequena África aos terreiros de Candomblé.

O 25 de maio, Dia da África, não é apenas uma data no calendário. É um convite a olhar para o passado e o presente com os olhos daqueles que foram apagados pela história oficial. No Rio de Janeiro, essa reflexão ganha contornos próprios, marcados por lutas e conquistas que reverberaram além dos limites da cidade.

A Pequena África, região que abrange o Cais do Valongo, Pedra do Sal e arredores, é um dos epicentros dessa história. Foi por ali que desembarcaram centenas de milhares de africanos escravizados, e foi também ali que a cultura negra resistiu e floresceu, dando origem ao samba, ao jongo e a tantas outras expressões culturais. O Valongo, hoje Patrimônio da Humanidade, é mais que um sítio arqueológico: é um símbolo da resistência negra.

Mas a resistência não ficou no passado. Nos anos 1970, o Rio viu nascer o Movimento Negro Unificado (MNU), que teve na cidade um de seus principais palcos. Foi aqui que ativistas como Yedo Ferreira e Ivanir dos Santos levaram a luta contra o racismo para as ruas, denunciando a violência policial e a discriminação. O MNU ajudou a pautar debates que ainda hoje são urgentes, como a implementação de cotas raciais e o combate ao genocídio da população negra.

Os terreiros de Candomblé também são parte fundamental dessa história. Espaços de resistência religiosa e cultural, eles preservaram tradições africanas e se tornaram refúgios para a comunidade negra. Mãe Beata de Yemanjá, do Ilê Omiojuarô, foi uma das vozes mais importantes nesse processo, lutando contra a intolerância religiosa e mostrando a força da espiritualidade africana.

O 25 de maio também nos lembra que a África não é um continente parado no tempo. Das inovações tecnológicas de países como Nigéria e Quênia à riqueza literária de autores como Chimamanda Ngozi Adichie, a África contemporânea está viva e em diálogo constante com a diáspora. No Rio, essa conexão se manifesta em eventos como a Feira Preta, que celebra a cultura e o empreendedorismo negro, e em projetos como o Museu Afro Digital, que preserva e divulga a história afro-brasileira.

Celebrar o 25 de maio é, portanto, reconhecer que a luta contra o racismo e a valorização da cultura africana são inseparáveis. É lembrar que o Rio de Janeiro, com todas as suas contradições, foi e continua sendo um território de resistência negra. E é, acima de tudo, reafirmar que a África não está apenas no passado: ela vive em nós, na nossa cultura, na nossa fé e na nossa luta por um futuro mais justo.

O 25 de maio não é apenas uma data, mas um chamado à reflexão e à ação. No Rio e no Brasil, a herança africana é viva, e sua celebração é um passo necessário na construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária.